domingo, janeiro 28, 2007

Lembretes

Lembrete 1

Este é para mim mesmo, mas agradeço a amigos, colegas, desconhecidos e inimigos que pegarem no meu pé, porque se tratam de 'promessas' para 2007:
1- voltar a estudar línguas: inglês e espanhol;
2 - ficar bom da minha lesão na perna (não sei o quanto depende de mim, mas farei minha parte) ;
3 - viajar (sair do Rio) - quiçá ir à Bahia no fim do ano;
4 - ir a mais shows e peças de teatro (ano passado foi uma meia-dúzia, contra dezenas de filmes no cinema);
5 - ficando bom da perna e sendo liberado, voltar a correr e malhar (e a jogar futebol!);
6 - ser atuante de fato como cidadão (atividades voluntárias, discussões políticas, questão ambiental);
7 - estudar o quanto puder sobre as matérias relativas ao meu trabalho, em especial o Tratado do Gama Cerqueira, parte de Marcas;
8- cuidar melhor desse blog e das minha idéias;
9 - escrever mais e melhor (quase o mesmo que o item 8); e
10 - reduzir ao máximo minha 'dívida' do financiamento imobiliário.

Há outros itens, é claro, mas talvez não seja necessário escrevê-los.


Lembrete 2

A Amazônia brasileira é ou tem que passar a ser motivo de preocupação para nós por dois motivos: 1- a questão ambiental (desmatamento, aquecimento global, qualidade de vida); 2 - a questão da soberania nacional (presença estrangeira perigosa, ausência do Estado brasileiro...). Temos que fazer algo. Eu proponho inundarmos os e-mails de nossos deputados e governantes, em especial em âmbito federal. É urgentíssimo sairmos da apatia.

sábado, janeiro 27, 2007

O que é 'defesa da vida'?

Gostar de maçãs é gostar das maçãs estragadas também? Uma velha canção de Raul Seixas diz que 'quem gosta de maçã irá gostar de todas porque todas são iguais'. Bem, o compositor parecia falar de relacionamentos livres ou adultério. Mas as maçãs não são iguais, nós sabemos (inclusive nesse aspecto sexual evocado pela música de Raul). Existem as gradações, mesmo entre maçãs do mesmo tipo - qualquer um que já foi à feira ou à quitanda sabe que é preciso escolher, na esperança de encontrar as de melhor aspecto e qualidade; as maçãs passadas são toleráveis especialmente quando não há alternativa, mas às podres ou bichadas só resta o lixo.
E este pobre ensaio visa a pensar sobre o valor da vida humana. É comum ouvirmos e lermos que 'todos têm o mesmo valor porque todos são seres humanos'. Hitler, então, vale o mesmo que Gandhi? Ronaldinho Gaúcho e o pereba da esquina se equivalem? Não posso considerar Chico Xavier melhor do que Fernandinho Beira-Mar? Sim, não, talvez, depende, as respostas variam e colidem, sendo a estrada reta da Declaração Universal dos Direitos Humanos um fiapo de uma teia gigantesca de conceitos e convicções. Uma teia em busca da aranha invisível ou inacessível que teceu esse engenhoso emaranhado.

Valor em si -
o ser humano tem um valor em si, independentemente do que faça? Quando olhamos para um recém-nascido ou mesmo para as crianças (com um pouco mais de boa vontade) somos instigados a dizer que sim, é isso mesmo, é a vida, a vida humana. Mas se pensamos em nosso vizinho antipático, em nosso chefe opressor, no ladrão que acabou de nos assaltar e agredir, etc, vamos saber onde colocar cada um em nossa escala de prestígio.
Pensando as grandes religiões - no sentido de mais difundidas -, Cristianismo, Judaísmo, Budismo, Hinduísmo e Islamismo (e suas vertentes internas), observamos que a vida é vista como um dom divino ou acontecimento primordial. Todas vão dar respostas sobre como fazer valer o milagre da vida; todas vão te apontar um caminho para a felicidade, e nisso fica pressuposto o valor do ser humano que pode ser feliz porque existe para dar certo - para agradar a Deus, para ser um com o todo, enfim, as diferenças cessariam na idéia comum do bem humano.
Mas essas mesmas religiões que a princípio valem igualmente para todos os homens e os consideram iguais são, cada uma à sua maneira, tremendamente hierárquicas. Há santos e pecadores, despertos e adormecidos, fiéis e infiéis, brahmas e párias, escolhidos e não-escolhidos - a igualdade é limitada. As mesmas criaturas, por merecimento, graça ou seja lá o que for, não alcançarão os mesmos resultados e isso será perfeitamente adequado. Que pecado para um cristão seria ter pena de Judas por seu destino tão infeliz! - afinal, ele 'teve o que mereceu', diria Pedro no livro de Atos dos Apóstolos. Mas por que afinal há bons e maus? Se os homens fossem iguais, como seria possível 'separar o joio do trigo'?

Política -
Como, entretanto, nem todos se importam com o que indicam as religiões, eis a política para pensar de maneira 'laica' sobre o valor do homem e como fazer com que as sociedades sejam felizes. A idéia do Estado Moderno, da governo racional não comandado por sacerdotes nem déspotas mas por sabedoria e senso de eqüidade e justiça - o Estado de Direito, que subordina a todos (mesmo os governantes) à Lei, esta é a idéia que hoje predomina no planeta e que marca especialmente o chamado Ocidente. Um bom governo não poderia prescindir de uma certa visão equânime dos 'cidadãos'. Mas até onde vai a igualdade?
Nascida na Grécia, a democracia (governo do 'demos', ou seja, dos cidadãos) vêm evoluindo ao longo de mais de dois milênios e agora parece estacionada na chamada 'democracia representativa liberal'. Mas seu sucesso não é o mesmo em todos os países, sendo especialmente problemática no Terceiro Mundo (nações capitalistas pobres ou muito pobres). Seu confronto com as alternativas, especialmente o ainda vivo Socialismo, ainda está em aberto.
Dirão os socialistas/comunistas que a democracia capitalista liberal é uma farsa, pois afirma uma igualdade jurídica mas impõe uma desigualdade econômica. Culpa da classe dominante, a burguesia detentora dos meios de produção e dos bancos. O sonho comunista de uma 'sociedade sem classes' seria conseqüência natural da hegemonia do proletariado, a classe trabalhadora oprimida. Pois é, os homens são iguais...mas uns são lobos e outros, ovelhas.
A história, entretanto, ainda não confirmou as espectativas do comunismo. As experiências de União Soviética, China, Cuba e demais nações que 'derrubaram o capitalismo' não resultaram na igualdade plena que faria feliz todas as pessoas. Em lugar dos grandes industriais e banqueiros, surgiu uma elite de burocratas do Estado, geralmente liderados por um 'grande líder' cultuado como um Deus. Os homens continuaram a ser 'divididos' entre 'lobos e ovelhas'. A crença na igualdade como viável e redentora permaneceu - como crença, tão religiosa como o paráiso monoteísta e o misticismo oriental.

Pena de morte -
Até que ponto uma vida merece ser vivida? É certo matar para mostrar que matar é errado? A sociedade quer justiça ou quer vingança? Peguntas que não podem ser ignoradas ao assistirmos a tantos atos bárbaros, como ônibus queimados com dezenas de passageiros dentro - dezenas de vidas ceifadas como suposta represália à morte de meia-dúzia de criminosos. Quanto vale a vida de quem rouba vidas injustificadamente?
Já se tornou comum refutar com veemência as alegações de ativistas dos direitos humanos ou mesmo de cidadãos não-engajados que consideram errada a pena de morte. Por humanismo, religisiodade ou o que for, esses irão afirmar que matar assassinos ou qualquer autor de crime hediondo é mero barbarismo disfarçado de justiça; ao que se poderá retrucar: 'mas que valor ainda pode ter à sociedade uma criatura que mata, estupra e muitas vezes sequer sente remorso?'. O valor intrínseco do ser humano parece se esvair e o que sobra são só os nossos atos. Somos iguais até agirmos.

Super-homem x sub-homem - Nietzsche escandalizou o mundo ao pregar o culto ao super-homem e desprezar a compaixão. O mundo não existiria para as massas, mas para o destaque dos melhores - só eles é que realmente valem a pena; tudo que se diz ou faz pela igualdade e pela caridade é meramente a 'moral dos fracos', o ressentimento e a inveja dos pequenos em relação aos grandes. Para este filósofo alemão, os homens são essencialmente desiguais e só a vida dos mais fortes e aptos torna válida a existência humana; os fracos devem aceitar isso e reverenciar os melhores - isso é que seria a verdadeira justiça.
Se tal visão de mundo pode nos enojar, como nos enoja o nazismo de Hitler, devemos no entanto ser honestos o suficiente para admitir que reside aí também uma concepção de valor da vida. Pois afinal, o que é defender a vida? É defender a vida de todos ou defender a vida dos que consideramos bons? Gostar de maçãs é gostar do fruto fresco ou do fruto estragado? Ainda que gostemos do ser humano com suas virtudes e defeitos, não é o saldo positivo o que nos faz acreditar e valorizar a humanidade, ou mesmo nossos irmãos e amigos?

Não podemos enxergar a aranha; nós mesmos somos essa habilidosa artesã, que tece por tempo indeterminado.

sábado, janeiro 20, 2007

Longa vida a Chico

Posso dizer que ontem realizei um sonho: assisti a um espetáculo de Chico Buarque, com meu pai. As doze horas de fila para comprar o ingresso (dia 11 de dezembro) e o desconforto da própria casa de shows, o Canecão, não se comparam à alegria e ao prazer em ver esse grande artista tocando lindas canções que tornam a vida mais bela e nos enchem de orgulho por ver que aqui no Brasil também há grandes compositores de música popular - é claro que Chico não é o único; mas, pra mim, é o melhor.
'Longa é arte, breve é a vida', diz o ditado; quem pode garantir que Chico fará um nova turnê daqui a seis anos? Ele é assim: fica anos em retiro, escreve um livro, vai viajar e então se convence de que há mais canções a fazer e motivos para se apresentar a seu público. É um artista metódico, aparentemente retraído; mas, que show! Mesmo quando tocou músicas 'lado b', adiando um pouco o nosso prazer de vê-lo cantar clássicos como 'As vitrines' e 'Bye bye Brasil', Chico foi maravilhoso, acompanhado por grandes músicos, à altura dele.
No início de 2006 assisti a um show que entrou para a história do rock: mais de um milhão de pessoas vendo os Rolling Stones na Praia de Copacabana, um recorde. Mas nas estatísticas do meu coração o grande show foi este 'Carioca', de Chico. Não sei se assistirei a Chico novamente; também acho difícil que outro show seja mais marcante que esse em minha vida. Peço à vida longa vida a Chico Buarque, porque quanto a sua obra, esta já é longeva, quiçá imortal.

Eu e eles - parte 2

Assim como 'avaliamos' os estrangeiros, somos avaliados. É tolo e inútil dizer que o brasileiro se preocupa demais com o que os estrangeiros pensam dele se não pudermos comparar a nossa precoupação com a de todos os demais povos. Talvez alguém tenha tentado estudar isso e sistematizar informações de tal modo que possamos medir: 'o índice argentino é tal, o polones é o seguinte...'.
Mas é verdade que nos auto-rotulamos como preocupados em 'fazer figura' diante dos outros, especialmente diante do Primeiro Mundo - quem nunca ouviu falar do 'pra inglês ver'? De fato, certas decisões históricas brasileiras - como, por exemplo, a criação da primeira universidade, a atual UFRJ - foram associadas pela historiografia ao desejo de agradar fulano ou cicrano de algum outro país. De maneira semelhante, os americanos têm fama de se lixarem para o que pensam os que não são sobrinhos do Tio Sam.
Certo é que essa questão vem do 'microcosmo', ou seja, da vida de cada um, e ganha um status de questão social graças às relações internacionais. Dizemos que Fulano vive em função dos outros quando seu comportamento indica maior preocupação com sua imagem perante as pessoas do que com sua consciência ou seu autoconhecimento. Não creio que esse seja um grande problema do brasileiro - pelo menos não nesse sentido de querer parecer o que não se é.
O Brasil precisa ter uma 'boa imagem lá fora'? É claro que sim! Qualquer nação - hoje, pelo menos - precisa construir perante as outras uma visão positiva - pujança, força, inteligência, civilidade, o que seja necessário. A violência e a falta de seriedade, por exemplo, talvez sejam os dois grandes defeitos brasileiros perante o mundo - quiça perante nós mesmos. Por que não recebemos tantos turistas quanto nosso potencial indica? E o que dizer dos muitos que vêm para ter relações com nossas mulheres e meninas, as 'fogosas', 'permissivas' e 'safadinhas' fêmeas brasileiras?
O estado de coisas atual em nosso país me envergonha. A centenária corrupção entranhada na sociedade; a irreverência que constantemente equivale a desrespeito e malandragem generalizados; o pouco caso com a vida, refleitido pelas estatísticas de homicídios e mortes por doenças curáveis e falta de saneamento básico; a sensação e o sentimento de que essas coisas não vão mudar. Assim, envergonhado, como posso mostrar minha casa bagunçada e imunda para as visitas? Não há tapete nem porão que acumule entulho ilimitadamente.
Alguns de nós já sabemos que é preciso e possível superar essa subcivilização que somos. Todos os brasileiros querem ser felizes, como qualquer homem deseja. Temos, apesar de todas as nossas mazelas, motivos para nos valorizarmos como gente capaz. Os defeitos ou vícios só existem em sua relação dialética com as virtudes e o bem funcionar; e a esperança é imperativa, é uma ordem capaz de libertar.