sábado, outubro 29, 2005

Mais "poesia"

Rimas pobres

Sou um sujeito
Direito e cheio
De preconceitos
Torto e estreito
Mas veja bem
Lá bem no âmago
Fundo do peito
Como alguém disse
Ou escreveu
Ou confessou
P'ra tudo há jeito
Ajeito eu
Pois eu não sou
Tão imperfeito
Que já não caiba
Defeito e dor
E algum respeito
Pois Prometeu
O condenado
Deixou o fogo
Perdeu o fígado
Perdeu a paz
P'ra que os mortais
Contassem histórias
E se iludissem
Com a verdade
E ao ver que é isso
Sorrio e rimo
Não digo mais

Confissão no ônibus

Rio, invenção dos cariocas,
faz silêncio, Rio,
embora seja impossível
ir embora

Rio, eu finjo que assimilo
a página 158 de um livro,
mas estou cansado e desaliviado,
tudo sem crer nos evangelhos
nem nos panfletos amarelos
com letras vermelhas, verdes,
prometendo gozo financeiro
e sexual

Rio, lugares-comuns
de horror e fascínio,
cheio de gente que não sabe
se é infeliz, se é contaminada,
se tem filho viciado, se tem filho,
se faz escolhas e
se Deus é pai ou filho das criaturas

Rio, minha maior pretensão poética
até agora, e até o dia
que me existir a entidade "carioca"

domingo, outubro 09, 2005

"O comércio de armas de fogo deve ser proibido no Brasil?" (ou "o cidadão deve ser capaz de saber porque vai votar sobre isso e não sobre aquilo?")

Diz a Constituição da República Federativa do Brasil:

"art.14 - A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nso termos da lei, mediante:
I - plebiscito
II - referendo
III - iniciativa popular"

Não sei se o material de divulgação do referendo explica a nós, a maioria, quando e como deve haver plebiscito ou referendo, e como se dá a iniciativa popular. Eu, que ainda não fiz uma pesquisa, só respondo na base do chute. Ah, sim: a lei n.9.709, de 18-11-1998, regulamente a os três incisos.
Bem, é melhor pesquisarmos. Só sabemos (os ignorantes) que no dia 23 de outubro deveremos apertar o botão 1 (não) ou o botão 2 (sim) para respondermos (será mesmo?) à pergunta-título deste meu novo retrucar.
Tenho dito entre alguns que, assim parece, a Globo é pelo SIM e o grupo Abril (da Veja) é pelo não. De certa forma, se há duas bestas-feras da comunicação se opondo quanto à possível "proibição do comércio de armas" (o que farão os pobres criminosos?) , então a balança parece equilibrada - embora, é claro, o clã dos Marinho tenha mais poder de fogo que os Civita.
Já perceberam que vou votar não, né? Sim, sou pelo não. Não, não sou pelo sim. Mesmo que Chico Buarque o seja. As leis brasileiras que regulam (é...hmmm..) o porte e a posse já me são suficientes; considerar a pequena contribuição dos crimes passionais e similares como significativa diante do descalabro da violência social é simplista (ou ingênuo, ou pura má-fé), etc - a quem quiser conversar comigo, posso expor meus motivos de maneira mais organizada, porque agora não estou disposto. A grande fonte de indignação, para mim, é que esse referendo parece um grande jogo de cena, que coloca em segundo plano as verdadeiras questões do drama brasileiro da violência: aquele, aquele outro, um tremendo absurdo aqui, outro acolá...preencha você, leitor. Pessoas "normais" (ficha criminal limpa) que se descontrolam, criança levadas, pais incautos, todos essas mortes estúpidas que talvez se reduzissem com a vitória do Sim acontecem nos lugares de maior IDH do planeta - são questões da "natureza humana", seja no Haiti ou na Inglaterra. Mas e a pior distribuição de renda? E as hostes das ignorantes e deslumbradas com o dinheiro fácil do crime? E............? E..........? Pois é, acabei falando demais.
Não quero comemorar a "vitória do Não" nem parabenizar os fabricantes de armas. Só quero o melhor para o meu país e não creio na proibição como algo que contribua verdadeiramente para isso. Quem tiver certeza do Sim e quiser me convecer, tente. Adoro argumentos não-falaciosos. Vamos aproveitar e tentar entender porque, "de repente", decidu-se que vamos votar nesse referendo de 23 de outubro, mas não se decide o voto popular sobre a Alca, as estatais privatizadas, a descriminalização do aborto, entre tantos outros "sim ou não" - ou "talvez", ou "sei lá", se for o caso...