sábado, setembro 03, 2005

É guerra. É guerra?

Nossa, agosto passou em branco nestas paragens! Talvez ainda seja precipitado dizer algo - sim, a respeito da crise política que vivemos, de Mensalão (a nova novela acompanhada por tantos), do desencanto com o PT, disso tudo.
É claro que estou decepcionado. Mas não só com o PT (dos demais envolvidos, nada esperava); comigo também. E com vocês aí. Com todos nós.
Agora assisto aos donos da verdade prepararem o terreno para a volta da oposição (é tão estranho chamá-los assim) à situação, se é que não estou falando mais besteira. Politiqueiros profissionais, cuja maior qualidade é legitimar seus próprios interesses e os de seus amigos (nossa frágil democracia) acima dos interesses do Brasil, homens-siglas, homens-multinacionais, são eles quem mandam, porque são eles os que levam vantagem. O PT, ou ao menos a cúpula petista, decidiu fazer um trato com os donos do poder para mandarem também (mandar mais, será?). Diante de tudo isso, só podemos ter certeza de que alguns não estando levando tanta vantagem como gostariam. Arrisco-me a dizer que o final dessa novela está marcado para 1º de janeiro de 2007.
Mas eu disse que estou decepcionado comigo mesmo e com vocês. É porque não espero do povão - anestesiado pela Globo, pelo Sílvio Santos, pelo Jornal Extra, pelos mestres da mistificação em geral - nada além de lamentos pueris e trezentas mil piadinhas de mensalão e Lula "bobão" (quem já não ouviu alguma?) . Só que de mim espero mais, e de vocês também. Se somos uma parcela esclarecida do povo brasileiro, a parcela alfabetizada funcionalmente, porque tanta apatia e conformismo? Temos sido cidadãos mesmo? Quem de nós tenta pressionar os parlamentares que elegeu (se é que lembra desse dado)? O que vamos fazer, o que estamos fazendo? Acredito ser a decisão acerca de 2006 (Heloísa Helena, Mr.PSDB, Garotinho...?) muito menos importante que a decisão acerca da nossa postura hoje, e amanhã, e entre os quatro anos que separam um pleito nacional de outro. Porque o Estado, porque a nação Brasil, existe independentemente de quem esteja formalmente governando-a. Os fundamentos constitucionais, os Planos Plurianuais, o funcionamento das instituições...cabe a nós saber, fiscalizar, cobrar, não tolerar o naõ-funcionamento do país - que é o funcionamento dele como (aprendi esta expressão há pouco tempo) "empresa-para-os-outros". De nós, o FMI e os países desenvolvidos só querem obediência financeira.
Quem sou eu para afirmar algo acerca das questões políticas (sim, do interesse coletivo) que perpassam nossas vidas? Quem sou eu para não fazê-lo? Política não é ciência exata, embora convide-nos ao estudo e à reflexão. Há quem afirme ter o PT tentado "solapar nossa democracia" e que este seja um mal esquerdista. Mas eu pergunto: o que queremos conservar? O que está sendo conservado? O que é necessário conservar e o que é necessário derrubar? Você aí, é comunista? É social-democrata? É conservador (como qualquer apático acaba sendo)? É nacionalista? Não concheço quase ninguém que seja (ou se comporte como se fosse, ou explicitamente simpatize) com qualquer linha política ("linha política?"), mas conhceço milhões de flamenguistas, vascaínos, corintianos, são-paulinos, gremistas, fãs do Fulaninho, da Cicraninha, da novela das oito...que tal sermos fãs de nosso país? Que tal sermos fãs também do que não sacia apenas nosso desejos mais imediatos de sobrevivência e prazer?
A culpa é nossa. A oportunidade também. Vivemos um grande momento; tudo pode ser muito melhor, embora ainda seja possível piorar(mos). Eu e você precisamos fazer algo diferente. Temos que fazer algo TAMBÉM. "Se queres paz, te prepara para a guerra; se não queres nada, descanse em paz" (Humberto Gessinger, ou alguém citado por ele).