sábado, maio 06, 2006

Nacionalismo no dos outros

Será possível o sonho de um mundo verdadeiramente sem fronteiras, ou um mundo onde as fronteiras dispensam arames eletrificados e soldados com olhar ameaçador? Será possível a integração humanística defendida por tantos pensadores e ativistas, desde os políticos e religiosos? Ou será inevitável a guerra de todos contra todos em escala global? Tenho pensado sobre essas questões ou outras correlacionadas; os acontecimentos em destaque e algumas leituras de TGE e Relações Internacionais têm-me estimulado. Não temos certeza nenhuma sobre a 'fraternidade universal'...quer dizer, alguns dizem ter, mas...
A chamada regra de ouro 'não faça ao outro o que você não gostaria que ele fizesse com você' (e a sua variante 'faça ao outro...') parece estar vinculada a uma capacidade de reconhecer em si algo, um desejo, uma vontade, uma esperança, que está em todos os outros também; ademais, parece envolver a capacidade de se colocar no lugar 'do próximo'. Então fico imaginando como me sentiria se imigrantes, sei lá, argentinos, viessem aos milhões para cá e depois de um tempo inventassem uma versão do nosso hino em castelhano (que tarefa traduzir 'Ouviram do Ypiranga' blá, blá, hein?). Pois isto é o que ocorre hoje nos EUA.
Também fico imaginando o que é ter seu país invadido por tropas estrangeiras. Amigos e vizinhos mortos, bandeiras alienígenas no alto dos maiores edifícios de sua cidade, tanques passeando nas ruas, plena sensação de impotência e heteronomia. Porque um país não é ou, no mínimo, não está sendo soberano quando seu território é dominado por outros que passam a ditar regras e depois do triunfo sobre você e seu povo, a impor 'tratados' desmoralizantes. Pois isso acontece alhures, não só no Iraque.
No Brasil, o sentimento nacionalista, o sentimento de brasilidade, foi ofendido (bem, eu assim me senti) pelas recentes decisões do governo boliviano acerca das refinarias de gás natural. Eles passaram por cima dos benditos acordos internacionais e estatizaram as refinarias 'do dia para a noite'. Teríamos esquecido que Evo Morales, o presidente da Bolívia, prometera essa nacionalização quando em campanha pela presidência. Lula 'reagiu' realizando uma reunião com Morales, Chávez e Kirchner; colocou panos quentes e a quase nenhum brasileiro satisfez. Deveríamos 'entrar lá e recuperar tudo na marra'? Deveríamos apelar à Corte Interncional de Haia? Ou apenas devemos aceitar e tentar perder o mínimo? Já se formularam diversas respostas, abrangendo todos esses matizes.
Com meu orgulho ferido, tento entender essas relações desiguais entre nações desigualmente soberanas. Com meu orgulho ferido, vejo que o próprio sonho humanista-religioso de união entre os homens de todas as nações está seriamente comprometido, talvez aleijado, sem que nenhum discurso da ONU possa esconder esse 'estado de coisas'. Com meu orgulho ferido, tendo entender porque estou assim e que orgulho é esse.