Escritos diversos numa bela manhã de feriado
'Suzane Iscariotes' 2
Estive pensando sobre o que escrevi no post 'Suzane Iscariotes ?' (quem não leu e quiser ler está um pouco abaixo). Também estive relendo-o e relendo os evangelhos cristãos 'não-apócrifos' (Mateus, Marcos, Lucas e João), principalmente no que contam sobre Judas, sua traição e sua morte. Creio que alguns amigos cristãos possam vir a ficar magoados ou decepcionados comigo por eu ter questionado a veracidade da história e chamado Judas de 'pobre coitado'. Não, não venho aqui para me retratar; estou é tentando 'arredondar' meus pensamentos, polí-los talvez, porque deixei de ser cristão mas não deixei de pensar sobre todas essas questões existenciais como morte, vida após a morte, sentido das coisas e das nossas ações - na verdade, hoje penso até mais, porque considero todas as possibilidades. Até a possibilidade de estar enganado quanto aos mistérios cristãos - a possibilidade mais terrível.
Comecei a ler um livro sobre a formação de valores morais das crianças, um esforço para tentar entender como e porque uma criança pode se tornar um bom ou mal adulto - ou até mesmo um adulto 'não muito bom' mas também não tão mal. Fico pensando no meu sobrinho. Associo aqui essa leitura ainda incipiente com a questão da religião ou negação delas na vida de um ser humano. Olhando para trás, vejo que fiz um percurso que pode ser repensado. Era um menino católico e embora tivesse deixado de ir à missa desde os 10, 11 anos, continuava crendo nas palavras pias, graves e muitas vezes generosas dos meus 'professores da fé católica'. Aos 18, angustiado, culpado e querendo entender um monte coisas em minha vida, tornei-me protestante (na época crendo ser apenas cristão e crendo inclusive que nunca o tinha sido antes). Alguns meses antes de completar 23 estava novamente 'sem lar'. O curioso é que alguns amigos desse movimento protestante do qual fiz parte disseram em algumas ocasiões que não deixei de ser cristão; seria, então, uma espécie de filho pródigo ou ovelha desgarrada, assim infiro. Será?
Cristo é hoje, pra mim, mais um problema do que um mistério. Problema no sentido filosófico. Acho que não vale a pena pesar as 'provas' contra ou a favor de sua existência. Continuo crendo que, se o mundo em que vivo é apenas cenário da história salvífica, era melhor não ter sido criado. Tal conclusão me lembrou o que Jesus teria dito a Judas e aos outros, de acordo com alguns evangelhos: 'ai de quem vai trair o Filho do Homem! Seria melhor para ele não ter nascido!'. Concordo com Cristo: Deus não deveria ter criado um homem que estaria destinado a uma traição que o destruiria de remorso e o levaria à perdição.
Os donos da verdade
Tantas questões éticas, tanta injustiça no mundo...para alguém que se descobriu apaixonado por Ciência Política e Filosofia Política, para alguém que se considera patriota e apaixonado por seu país, é terrível entender porque o Brasil é assim. Assim, injusto, violento, desencontrado, com péssima distribuição de renda, população em sua grande maioria alienada, com um esqueleto estatal cuja carne é anêmica ainda que os ossos sejam até fortes.
Quando comecei a prestar atenção no que professores e estudiosos diziam sobre meu país e sobre a política mundial, quando comecei a amar a leitura, logo me apaixonei pela possibilidade de um mundo perfeitamente igualitário. Logo passei a admirar 'a esquerda' e odiar 'a direita' como quem gosta de um herói e despreza um vilão. Como só é possível aprender vivendo, constato em minha vida que quanto mais aprendo mais enxergo minha ignorância.
Os debates direita x esquerda, por exemplo, na mídia, nas ruas, até no Orkut (minha experiência mais recente) são necessários e muitas vezes férteis em idéias, porém é difícil escapar aos extremos do maniqueísmo e do objetivismo tecnocrático. Como é difícil dosar a paixão e o entendimento! Nos debates dos quais tenho participado na rede, percebo que todos nós queremos esconder atrás de citações de notáveis e argumentações o nosso desejo de ser os donos da verdade, ou ao menos seus locatários.
Certos esquerdistas apaixonados acusam a direita de desprezar os mais humildes e tapar os olhos para a desigualdade, etc; certos direitistas ardorosos acusam a esquerda de ser paranóica, escapista e contrária à liberdade democrática, etc. Os mais moderados, dos dois lados, talvez pensem mais ou menos o mesmo, porém não dizem assim. E devemos estar em um dos lados, dada a impossibilidade objetiva de se comprovar que alguém é milimetricamente 'centrista', blá, blá, blá. Recomendável é, entretanto, tentar saber que diabos 'direita' e 'esquerda' significam.
Crendo ser impraticável o rótulo de 'apolítico', escolhi e cultivo uma visão de mundo considerada à esquerda. Mas tenho aprendido que não estou exatamente do 'lado bom', porque é bem provável que ele não exista, como insinua a história. Entendo apenas que, até aqui, essa visão surgiu a mim como a melhor para meus desejos e expectativas. Entretanto é também recomendável ir enxergando com mais nitidez quais são esses desejos e expectativas.
Sendo assim prometi a mim mesmo, ainda que seja falho na promessa, não mais rotular de 'direita' as medidas e opiniões que me pareçam ruins e desagradáveis. Elas podem ser apenas estúpidas ou equivocadas. Prometi também me esforçar para entender 'de verdade' o que querem ou propõem os meus 'adversários' da direita (ou 'direita'). Afinal, precisamos nos perguntar se queremos entender e influir positivamente nos rumos deste mundo e deste nosso Brasil ou apenas ganhar discussões. No final é a escolha entre Sócrates ou os sofistas.
Estive pensando sobre o que escrevi no post 'Suzane Iscariotes ?' (quem não leu e quiser ler está um pouco abaixo). Também estive relendo-o e relendo os evangelhos cristãos 'não-apócrifos' (Mateus, Marcos, Lucas e João), principalmente no que contam sobre Judas, sua traição e sua morte. Creio que alguns amigos cristãos possam vir a ficar magoados ou decepcionados comigo por eu ter questionado a veracidade da história e chamado Judas de 'pobre coitado'. Não, não venho aqui para me retratar; estou é tentando 'arredondar' meus pensamentos, polí-los talvez, porque deixei de ser cristão mas não deixei de pensar sobre todas essas questões existenciais como morte, vida após a morte, sentido das coisas e das nossas ações - na verdade, hoje penso até mais, porque considero todas as possibilidades. Até a possibilidade de estar enganado quanto aos mistérios cristãos - a possibilidade mais terrível.
Comecei a ler um livro sobre a formação de valores morais das crianças, um esforço para tentar entender como e porque uma criança pode se tornar um bom ou mal adulto - ou até mesmo um adulto 'não muito bom' mas também não tão mal. Fico pensando no meu sobrinho. Associo aqui essa leitura ainda incipiente com a questão da religião ou negação delas na vida de um ser humano. Olhando para trás, vejo que fiz um percurso que pode ser repensado. Era um menino católico e embora tivesse deixado de ir à missa desde os 10, 11 anos, continuava crendo nas palavras pias, graves e muitas vezes generosas dos meus 'professores da fé católica'. Aos 18, angustiado, culpado e querendo entender um monte coisas em minha vida, tornei-me protestante (na época crendo ser apenas cristão e crendo inclusive que nunca o tinha sido antes). Alguns meses antes de completar 23 estava novamente 'sem lar'. O curioso é que alguns amigos desse movimento protestante do qual fiz parte disseram em algumas ocasiões que não deixei de ser cristão; seria, então, uma espécie de filho pródigo ou ovelha desgarrada, assim infiro. Será?
Cristo é hoje, pra mim, mais um problema do que um mistério. Problema no sentido filosófico. Acho que não vale a pena pesar as 'provas' contra ou a favor de sua existência. Continuo crendo que, se o mundo em que vivo é apenas cenário da história salvífica, era melhor não ter sido criado. Tal conclusão me lembrou o que Jesus teria dito a Judas e aos outros, de acordo com alguns evangelhos: 'ai de quem vai trair o Filho do Homem! Seria melhor para ele não ter nascido!'. Concordo com Cristo: Deus não deveria ter criado um homem que estaria destinado a uma traição que o destruiria de remorso e o levaria à perdição.
Os donos da verdade
Tantas questões éticas, tanta injustiça no mundo...para alguém que se descobriu apaixonado por Ciência Política e Filosofia Política, para alguém que se considera patriota e apaixonado por seu país, é terrível entender porque o Brasil é assim. Assim, injusto, violento, desencontrado, com péssima distribuição de renda, população em sua grande maioria alienada, com um esqueleto estatal cuja carne é anêmica ainda que os ossos sejam até fortes.
Quando comecei a prestar atenção no que professores e estudiosos diziam sobre meu país e sobre a política mundial, quando comecei a amar a leitura, logo me apaixonei pela possibilidade de um mundo perfeitamente igualitário. Logo passei a admirar 'a esquerda' e odiar 'a direita' como quem gosta de um herói e despreza um vilão. Como só é possível aprender vivendo, constato em minha vida que quanto mais aprendo mais enxergo minha ignorância.
Os debates direita x esquerda, por exemplo, na mídia, nas ruas, até no Orkut (minha experiência mais recente) são necessários e muitas vezes férteis em idéias, porém é difícil escapar aos extremos do maniqueísmo e do objetivismo tecnocrático. Como é difícil dosar a paixão e o entendimento! Nos debates dos quais tenho participado na rede, percebo que todos nós queremos esconder atrás de citações de notáveis e argumentações o nosso desejo de ser os donos da verdade, ou ao menos seus locatários.
Certos esquerdistas apaixonados acusam a direita de desprezar os mais humildes e tapar os olhos para a desigualdade, etc; certos direitistas ardorosos acusam a esquerda de ser paranóica, escapista e contrária à liberdade democrática, etc. Os mais moderados, dos dois lados, talvez pensem mais ou menos o mesmo, porém não dizem assim. E devemos estar em um dos lados, dada a impossibilidade objetiva de se comprovar que alguém é milimetricamente 'centrista', blá, blá, blá. Recomendável é, entretanto, tentar saber que diabos 'direita' e 'esquerda' significam.
Crendo ser impraticável o rótulo de 'apolítico', escolhi e cultivo uma visão de mundo considerada à esquerda. Mas tenho aprendido que não estou exatamente do 'lado bom', porque é bem provável que ele não exista, como insinua a história. Entendo apenas que, até aqui, essa visão surgiu a mim como a melhor para meus desejos e expectativas. Entretanto é também recomendável ir enxergando com mais nitidez quais são esses desejos e expectativas.
Sendo assim prometi a mim mesmo, ainda que seja falho na promessa, não mais rotular de 'direita' as medidas e opiniões que me pareçam ruins e desagradáveis. Elas podem ser apenas estúpidas ou equivocadas. Prometi também me esforçar para entender 'de verdade' o que querem ou propõem os meus 'adversários' da direita (ou 'direita'). Afinal, precisamos nos perguntar se queremos entender e influir positivamente nos rumos deste mundo e deste nosso Brasil ou apenas ganhar discussões. No final é a escolha entre Sócrates ou os sofistas.