quinta-feira, janeiro 26, 2006

Poesias de início de ano

Preciso escrever muito mais em prosa, mas... estava conversando ontem com um rapaz, estudante de Biologia, que vendia suas poesias na porta do Espaço Unibanco. Foi uma conversa muito agradável - e no fim, dei a ele um real pelo livretinho. Como não tenho vontade nem coragem de vender as minhas (será que alguém compraria?), minha saída é publicá-las no blog.

Postais

Índios perfilados: cultura brasileira
As nádegas, o Cristo
E tudo isto que é tudo isso
Padim Ciço, cataratas
As verdes matas (ó, imagem congelada!)
Céu arranhado, viço, mulatas, bandeira

E eu, um fantasma embasbacado
Orgulhoso, estou lá e não existo
Vejo a mim mesmo, como o prometido
Permaneço anônimo, sinônimo, lindo

Amo a cidade, desconheço os habitantes
Louvo a arte e ignoro o artista
Amo o mundo, não sei do que se trata
Porque tudo sou eu, criatura que registra,
Efêmera assembléia de sintagmas


Eu quero ouvir os anjos

Todos morrem jovens.
Mas há esperança, pois há morte após a vida!
Se for verdade que há verdade e mentira
Superaremos a poética mania
De separar Paixão e Fantasia,
A sede da água que sacia.

Silêncio anula silêncio,
Razão só pode ser irracional,
Homeopáticas verdades da vida.
E quem duvida, faz bem,
Confirma a certeza fugidia.

Os anjos disseram-me que não existem.
Agora durmo tranqüilo
Sem Lúcifer, Miguel, nem quem me guarde
(Ó Deus, fazei com que os homens te refaçam,
Fazei com que as estátuas ressuscitem!
Transformai as catedrais da minha infância...
Se não há seres angélicos que cantam,
Então, que gritem!).