sábado, outubro 21, 2006

Comentários de um eleitor-jornalista-frustrado (não necessariamente nessa ordem)

Estou um pouco decepcionado comigo no que diz respeito a estas eleições de 2006. Tinha prometido a mim mesmo fazer uma pesquisa muito mais extensa do que fiz para conhecer candidatos, além de estudar muito mais sobre política do que, de fato, estudei. Então, simplesmente votar emLula (confesso, há uma pequena chance de fazê-lo) ou em Alckmin não pode compensar minha ignorância. Mas, o que eu estou dizendo! Até que fiz 'coisas interessantes' - e li até demais.

Há muitos meses resolvi conhecer os programas de diversos partidos brasileiros: PT, PSDB, PMDB, PFL, PL, PV, entre outros, até PRONA! Muito curioso, muito instigante, por alguns motivos, uns quatro. Primeiro: existe muito mais convergência do que eu pensava - talvez pelo caráter genérico de termos e expressões como 'desenvolvimento do país', 'dignidade do trabalhador', 'justiça social', 'valorização do trabalho', etc - por quê?. Segundo: parece que está sendo difícil transformar os discursos em prática - será por causa do desejo de poder em primeiro plano? Será porque os teóricos não apitam muito na hora de governar e legislar? Será por pura incompetência? Ou será porque eu não consigo enxergar direito? Ou será um pouco de cada? Ou serão outros motivos? Por que esses textos, muitas vezes tão bem escritos e estimulantes, não se refletem em política de primeira linha?


Sigo com as descobertas. Terceiro: essa enxurrada de informações poderia servir para melhorarmos como cidadãos, pois, ao menos teoricamente, parece valer a pena filiar-se a um partido, até para cobrar dos eleitos o compromisso com aquelas diretrizes partidárias; bem, ainda que sem se filiar a nenhum deles, talvez consigamos diferenciar melhor os políticos 'sérios' dos 'fisiológicos' (os profissionais) e destes, pelo menos duas categorias - os que são intelectualmente ineptos mas bons de voto (e de bolso) e os cultos mais igualmente desonestos. Quarto: não é bem assim o que eu disse no 'terceiro:', porque governar e legislar são, obviamente, tarefas árduas; pode-se fazer grandes besteiras estando cheio de boas intenções, porque política requer coração e inteligência - e, ao menos em tese, os partidos se estruturam para pensar as cidades, os estados e o Brasil como um todo, sendo um grande desafio avançarmos como nação.

Mas talvez, como eleitores, nos comportemos também como torcedores - votamos em alguém ou num partido como torcemos por nossos clubes do coração - ou nem isso. Política também é terreno de paixões, vide a dicotomia esquerda-direita, com suas trocentas definições...mas é preciso transcender essas posturas, ou não? Ainda estou tateando no escuro, sem saber como, mas já me parece óbvio que preciso participar mais ativamente da 'vida política' brasileira. Nenhum escândalo, nenhum coronel, nenhum 'picareta com anel de doutor' me dá direito a virar as costas e suspirar por não ser sueco ou inglês - terras de políticos 'sérios'(?) -, ao contrário!

A cobertura eleitoral dos jornais cariocas

Quem tem acompanhado, ainda que superficialmente, a cobertura das eleições por O Globo, JB, O Dia e Extra, os quatro grandes jornais do Rio, pode reparar em quatro posturas diferentes: 1 - O Globo tenta fingir-se neutro (pra variar?) quanto à disputa presidencial; 2 - O JB é descaradamente 'alckmista'; 3 - O Dia é lulista; 4 - para o Extra, seus leitores preferem sexo, fofocas e futebol. Vamos ver:
1 - Já tantas vezes acusado de fazer campanha (ainda que disfarçada) para certos candidatos - vide Collor em 89 -, as organizações Globo pareciam neutras em 2002 e até pocuo tempo. Mas o tal escândalo dos dossiês deixa algumas dúvidas: por que quase não se fala na atitude desonesta do delegado que vendeu as fotos e armou o circo? por que as manchetes denunciando os 'amigos do Lula', mas quase nada sobre as suspeitas que pairam sobre tucanos? Será que os Marinho votam 45? E por que o Extra, que também é da turma, mantém seus leitores quase que num mundo paralelo, onde é mais importante saber que artista pegou que modelo e qual será o ataque do mengão no domingo?
2 - Tenho lido muito mais o JB desde que houve a reformulação. O jornal ficou mais bonito e mais barato, ficando com pouco a dever em relação ao Globo - ainda que com uma cobertura mais limitada, teve boas idéias, como chamar gente boa para colunas e criar uma editoria de segurança pública. Mas em termos de eleições, o JB (digo, seus donos e o jornalista Augusto Nunes) é Alckmin, quase pedindo um 'voto de honestidade' dos seus leitores. Confesso que ler um editorial elogiando os caciques do PFL, bem como Nunes dizer que o leitor lerá 'a verdade' - até porque deduz-se que a verdade é que 45 é do bem e 13 é o capeta - me irrita profundamente.
3 - O Dia está dando ênfase num aspecto do 'escândalo do dossiê' que nenhum outro jornal carioca - e pelo que pude perceber, nem Folha ou Estadão de São Paulo - considerou relevante: o escândalo do dossiê é sujeira de mais de um partido. E é sujeira com matizes conspiratórios, tendo em vista a atitude partidarista do delegado que prendeu os petistas - a Crata Capital dessa semana traz interessante matéria sobre como tudo aconteceu - inclusive o pedido do delegado, de mostrar as fotos no Jornal Nacional às vésperas do pleito. Se O Dia apenas faz bom jornalismo ou 'gosta muito' de Lula (como já demonstrou outrora gostar de Garotinho), não sei dizer...

domingo, outubro 15, 2006

Por que não votarei em ninguém para presidente

Um aspecto interessante do blog, dentre outros, é justamente ele não ter que ser interessante. Não é não? Você pode escrever, dentro do seu limite, sobre coisas que podem não interessar a mais niguém; e não há problema nenhum nisso. Desde que aqui entrei, no entanto, tento ser 'interessante'. Porque faz parte do efeito terapêutico de escrever aqui; porque é um espaço valioso, é uma oportunidade! Então eu posso dizer por que não voterei nem em Lula nem em Alckmin - não porque eu deva explicações, mas porque eu acho 'existencialmente válido' dizer ao leitor hipotético.
Inicio confessando que, se tivesse um pouco de... coragem?, descaramento?, sei lá?, de votar em alguém, votaria em Lula - porque embora crítico e de saco um tanto cheio, sou de esquerda e repudio tudo que me parece ameaçadoramente direitista (e aqui confesso ser isso irracional, contraditório - já votei em César Maia, no PFL! Votei em Denisse Frossard, cujo discurso é muitas vezes direitista!). Será que se eu fosse 'machão' mesmo eu votaria 45? Confesso ter antipatia pelo PSDB, por me parecer 'centro-direita' disfarçado de 'centro-esquerda'. Mas não tenho a menor intenção, mesmo, de te fazer votar em Lula com medo do 'Chuchu' - não mais!
Lula e Alckmin tentam provar 'científicamente' que um é melhor que outro. Lula recorre a dados que supostamente provam o quanto o Brasil é melhor agora que nas gestões FHC; Alckmin, por sua vez, enaltece seu 'êxito' em São Paulo e repete, desesperadamente (alguém disse 'por instinto de sobrevivência'), que o PT é uma máfia e seu maior líder um mentiroso - o PSDB é 'eficiente', 'sério'. Sei. O Brasil, com suas estatísticas ainda tão desoladoras, aguarda.
O que mais me decepciona: nenhum dos dois parece ter mesmo um projeto de nação na cabeça. Anos se passam e o país continua com altas taxas de subemprego, violência (ou banditismo?), corrupção, analfabetismo (incluindo o funcional), gente morrendo de doenças perfeitamente tratáveis...PSDB e PT são, em tese, os partidos que predominam no que tange ao poder nacional, a um projeto de país, já que PMDB e PFL parecem preferir a sombra do poder - onde talvez seja mais fácil usufruir do mesmo; os demais partidos não demonstram força para uma proposta nacional consistente, fora de questões pontuais. Mas tucanos e petistas parecem tão focalizados em derrotar um ao outro que não percebem - ou não se importam com - o estrago causado. Assim me parece, até queme expliquem (ou entenda) melhor.
O que mais me irrita: certos jornalistas e intelectuais se apegando a questões pontuais para demonstrar conhecimento da 'causa Brasil'. Por exemplo: Augusto Nunes, diretor de redação do Jornal do Brasil, 'descobriu' que a 'crise moral' da sociedade brasileira expressa-se através da atual preferência por Lula! Seríamos, então, saudáveis se optássemos pelo chuchu paulista. E se Alckmin virar o jogo? Será uma contrição coletiva, parafraseando Lula, 'das maiores de todos os tempos'! As carteiradas, bandalhas, ignorâncias, alienações, desvios de verbas públicas, apatia, etc, nada disso será mais predominante, porque Lula estará fora...
Para a decepção dos que me garantem que é 'questão de cidadania e senso cívico' votar num dos dois, digo que me sinto mais próximo desses valores digitando '92' no dia 29. É até engraçadinho, não? Mas não tem mesmo a menor graça.