sábado, agosto 02, 2008

Mais um poema carioca (escrito em 2002)

Curiosidade: este poema que o leitor hipotético poderá apreciar logo abaixo foi inscrito por mim num concurso que a Universidade Estácio de Sá (lá me formei, em Jornalismo) promoveu em 2002. A poucos dias de divulgarem os vencedores, um cara do concurso ligou pra mim e perguntou "você menciona em seu poema a palavra 'doxografia'. O que é isso?". Eu me irritei, achei aquela pergunta totalmente impertinente, e disse "cara, eu não acho que devo explicar o que é doxografia, acho que não cabe isso em termos de poesia; mas é um termo dicionarizado, você pode encontrar no dicionário". Bem, talvez eu tenha sido rude. Só sei que não fui selecionado no concurso e até hoje desconfio que minha resposta meio malcriada teve peso considerável nisso. Mas continuo achando que não cabe aqui ficar explicando o que significa tal ou qual termo, acho isso 'antipoético'... é permitido, inclusive, inventar palavras...mas a bedita palavra é mesmo um termo dicionarizado e não a escolhi gratuitamente. Eis então o poema, com direito a 'doxografia' e outras palavras impopulares:

A entropia carioca (sic)

Roda VT
A entropia carioca
entope, mastiga, ilumina
com seu cheiro de maresia.

Mas não nos esqueçamos
dos gargalos nas colinas
ontem à noite, todo dia.

A entropa carioca
convida ao carbono furado por ecos
de navalhas mixadas.

Sem falar da mixaria
dos lances geográficos
entre crônicas contidas.

A entropia carioca, que beleza,
passeia perfeita pelas lentes,
ressalta a memória latente,
mesmo sem leite, sem dente.
Antiteticamente.

Nos risos da doxografia popular,
trilhos, tiros, filhos, doses de cachaça
misturados à certeza gelada,
por aí vai, seguindo as entrevistas,
na areia do mármore,
o sonho de um Terceiro Mundo melhor.

Entropia, foi ontem,
pegou um ônibus, coitada,
roubaram-lhe a bolsa,
cheia de gols da rodada,
de documentos importantes,
e de doces de asfalto
com desabamento.

Vamos para o intervalo.
Sobe som.