sábado, janeiro 20, 2007

Eu e eles - parte 2

Assim como 'avaliamos' os estrangeiros, somos avaliados. É tolo e inútil dizer que o brasileiro se preocupa demais com o que os estrangeiros pensam dele se não pudermos comparar a nossa precoupação com a de todos os demais povos. Talvez alguém tenha tentado estudar isso e sistematizar informações de tal modo que possamos medir: 'o índice argentino é tal, o polones é o seguinte...'.
Mas é verdade que nos auto-rotulamos como preocupados em 'fazer figura' diante dos outros, especialmente diante do Primeiro Mundo - quem nunca ouviu falar do 'pra inglês ver'? De fato, certas decisões históricas brasileiras - como, por exemplo, a criação da primeira universidade, a atual UFRJ - foram associadas pela historiografia ao desejo de agradar fulano ou cicrano de algum outro país. De maneira semelhante, os americanos têm fama de se lixarem para o que pensam os que não são sobrinhos do Tio Sam.
Certo é que essa questão vem do 'microcosmo', ou seja, da vida de cada um, e ganha um status de questão social graças às relações internacionais. Dizemos que Fulano vive em função dos outros quando seu comportamento indica maior preocupação com sua imagem perante as pessoas do que com sua consciência ou seu autoconhecimento. Não creio que esse seja um grande problema do brasileiro - pelo menos não nesse sentido de querer parecer o que não se é.
O Brasil precisa ter uma 'boa imagem lá fora'? É claro que sim! Qualquer nação - hoje, pelo menos - precisa construir perante as outras uma visão positiva - pujança, força, inteligência, civilidade, o que seja necessário. A violência e a falta de seriedade, por exemplo, talvez sejam os dois grandes defeitos brasileiros perante o mundo - quiça perante nós mesmos. Por que não recebemos tantos turistas quanto nosso potencial indica? E o que dizer dos muitos que vêm para ter relações com nossas mulheres e meninas, as 'fogosas', 'permissivas' e 'safadinhas' fêmeas brasileiras?
O estado de coisas atual em nosso país me envergonha. A centenária corrupção entranhada na sociedade; a irreverência que constantemente equivale a desrespeito e malandragem generalizados; o pouco caso com a vida, refleitido pelas estatísticas de homicídios e mortes por doenças curáveis e falta de saneamento básico; a sensação e o sentimento de que essas coisas não vão mudar. Assim, envergonhado, como posso mostrar minha casa bagunçada e imunda para as visitas? Não há tapete nem porão que acumule entulho ilimitadamente.
Alguns de nós já sabemos que é preciso e possível superar essa subcivilização que somos. Todos os brasileiros querem ser felizes, como qualquer homem deseja. Temos, apesar de todas as nossas mazelas, motivos para nos valorizarmos como gente capaz. Os defeitos ou vícios só existem em sua relação dialética com as virtudes e o bem funcionar; e a esperança é imperativa, é uma ordem capaz de libertar.