quarta-feira, outubro 12, 2011

O GIGANTE DE PEDRA SABÃO

Há 80 anos conseguimos posicionar no alto de um morro de mais de 700 metros um gigante de pedra sabão. Com 30 metros de altura, ele nos orgulha, nos envergonha, nos deprime, nos dá esperança. Ele é de todos os brasileiros, mesmo que você não o queira. Ele é de todos mas pertence à arquidiocese da cidade. Ele é um símbolo de idolatria, para alguns - e é um símbolo de supremacia, para outros. Ele só não pode não significar nada. Ele parece que quer abraçar, parece que quer voar, parece que quer cuidar e vigiar, mas não pode.

Ele é uma das sete maravilhas do mundo moderno, o que é uma mentira. Sua presença é fascinante e constrangedora, ao mesmo tempo. Ele é uma criatura que espelha uma outra criatura engendrada por outras criaturas. Uma criatura precisa pagar a outras criaturas para chegar perto dele, mas grande parte das criaturas que gostam desta gigante criatura não têm dinheiro para isso. Algumas criaturas assaltam algumas outras criaturas que querem estar com o gigante no alto do morro.

Eu já estive lá com o gigante. Sorri com o gigante ao fundo, imitei o gigante, guardei a imagem do gigante. O gigante é bonito e vê uma cidade gigante do melhor ângulo possível: vê o mar, vê a baía, vê o verde, vê o concreto, mas não vê o que entristece a cidade, nem vê os olhos tristes de quem o vê lá de baixo. Há quem peça ajuda ao gigante, colocando sobre seus ombros uma responsabilidade que ele não tem. Às vezes ele parece querer tombar, mas isso não lhe é permitido.


Há quem venha de outros países para ver o gigante e ver o que o gigante consegue ver. Nós nos gabamos de ter um gigante no alto do morro, nós nos gabamos dos nossos verdes morros. Pena que o gigante nada possa fazer quanto às coisas das quais nos envergonhamos. Mas ele continuará gigante, olhando lá de cima com seus olhos cegos, seu rosto plácido, sua envergadura impressionante, sua total inocência de criatura, sua solidão espelhando a solidão de um criador desconhecido.