sábado, março 19, 2005

Flerte

Do fato

Finalmente, iniciei a graduação em Filosofia na Uerj.

Da pompa

Estudar numa universidade pública ainda é símbolo de status no Brasil; talvez, ainda o será durante muito tempo; talvez, seja este mesmo o desejo de todos nós, ou muitos de nós, que estamos lá dentro.
Cursar Filosofia é geralmente estudar numa universidade pública, se não me engano. Não há como negar que somos privilegiados - mesmo numa sala-sauna (sem eucalipto, giz ou apagador), espremendo-se para copiar textos na "xerox" e dentro de um lugar onde a presença dos que, há poucos anos, nem sonhavam com "terceiro grau", é agora quase inevitável. Estes são os "afirmados", que lutam para subverter a "ordem cultural-natural" brasileira. A cidade partida é suturada com barbante na R.S.Francisco Xavier, 524.

Da turma (e turmas)

Estou encantado, embora não esteja surpreso. São senhores e senhoras classe média, formados, sendo colegas de jovens da periferia que lutam contra anos de "acintes à Santa Gramática" e péssima formação básica; jovens da Zona Sul, gozando de um tranqüilo conforto, estudando sossegados - ou até cursando duas faculdades suimultaneamente -, ao lado de trabalhadores suburbanos, já especialistas em ler e elucubrar sufocados numa condução superlotada.
Sei que não sou o único funcionário público da minha turma. Também já sei que, embora formado em Jornalismo e com alguma bagagem acadêmica, posso e vou apanhar bastante (já levei umas bordoadas) de meninos e meninas cheios de ingenuidade (maior que a minha) e senso crítico aguçado (ainda que mais verde que o deste que o diz). Garotos sem medo de dialogar com professores cheios de experiência e "acúmulo cultural". Garotos sem medo de agitar politicamente um lugar em grave crise, nem de receber, cheios de auto-confiança, os novos colegas - a despeito da idade destes.

Das aulas

Se não pudesse cursar Filosofia na Uerj, certamente matricularia-me no curso "Filosofia à Maneira Clássica", da ONG Nova Acrópole. Eles realizam um trabalho muito digno, acessível a todos os que venham a se interessar. Depois que me apaixonei pela Filosofia e comecei a devorar livros, entendi que seria bom ser orientado para não me perder num possível auto-didatismo confuso. Entretanto, confesso meu medo de academicismo. Já senti alguns calafrios em certos momentos, naquela sala-sauna. Temos idéias infantis, não? Idéias como parecermos estúpidos nos comentários; idéias como parecermos apáticos e desinteressantes ao hesitar quando vem o impulso da alma, que nos diz "indague o mestre!" ou "indaque o colega!", "você ainda não está satisfeito com tal explicação! Não foi suficiente!"; idéias...enfim, não sei se infantis ou senis, ao temer os espinhos da roseira do saber. Será que estudarei tudo o que é possível em quatro bons anos de formação? Sei o que é esse "tudo"? O que é esse "tudo"? Indagações, ao que o coração indica, desnecessárias. Não serei filósofo por completar as dezenas de disciplinas que me esperam; se filósofo tornar-me, será pelo verdadeiro amor ao saber. Tenho certeza de que esta busca faz de mim alguém mais vivo - porque mais digno de viver.

"Analfabeto não é o que não sabe ler; é sim aquele que, sabendo ler, não lê"
Mário Quintana

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Oi, Thiago!
Vc está cursando filosofia? Que máximo!!!
A gente bem que podia se encontrar pra trocar idéias sobre isso...lembra que eu estava querendo ler alguam coisa sobre filosofia? Vc podia me ajudar e eu aproveito pra entregar seu livro...
Tô adorando o blog..parabéns!
Beijo....

5:11 PM  

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