domingo, fevereiro 20, 2005

Sobre "Laranja mecânica"

Ontem assisti a "Laranja Mecânica", de Stanley Kubrick. Penso que é um belo ensaio cinematográfico sobre a violência e o cinismo do mundo civilizado. O olhar do "protagonista" cumpre metade do que devem ter sido os objetivos do diretor americano. Mas o filme não seria contundente como é sem o grotesco de estupros ao som de Beethoven, os gritinhos de excitação dos arruaceiros, as gíras descaradamente "inspiradas" em idiomas soviéticos, a caritura grotesca da sociedade ocidental tão sofisticada - caricatura, aliás, tão caricata que supera em realismo muitos documentários "engajados".
Somos todos violentos, muito violentos - nenhuma novidade nisso. Mas parece ter valor a capacidade de se enojar de tanta violência que produzimos ou deixamos produzir em nome de interesses econômicos e mesmo em nome "do bem-estar da sociedade", "da moral e dos bons costumes". Alex, o "herói" da película, é sensível, inteligente, como você. É perverso, como quem? Ora, ele tem desejos e os quer satisfazer. Ele quer o prazer que dá significado à sua vida. O diretor da penitenciária para onde Alex vai quer cumprir sua missão perante a opinião pública. Todos só querem se sentir bem. Moloko é uma espécie de RebBull turbinado. "Laranja Mecânica" ainda resiste ao tempo; serve, pleo menos, para que os donos da razão não se levem tão a sério.