Conto reles
A FICÇÃO NO CENTRO DO RIO
Bem barato, instigante e pouco arriscado – ainda que o suficiente pra deixar minha mãos levemente gélidas. Saí decidido do trabalho; não, minto, estava decidido mesmo quando lembrei de um cara que panfletava esse serviço naquela área, perto do metrô e longe o suficiente do meu “Big Brother Imaginário”. “Só 10 reais, pra mim que costuma pagar 50, até 80...”, pensei de novo.
Aí atravessei aquelas ruas todas até avistar um daqueles caras. “É impressionante! Quando eu não estou nem um pouco afim sempre aparece um; agora que eu decidi, uma dificuldade pra pegar o papelzinho...”. O cara parecia preocupado com a polícia, mas devia ser só uma preocupação corriqueira – se não ele ficava mais escondido. “Porra, eu tive que PEDIR o papel pro infeliz. Ele não me viu passando? Não viu que eu podia estar afim?”. Bom, agora eu já sabia onde ficava.
Só faltava a coragem pra entrar, porque nessas horas você acha que todo mundo está te olhando. Um cara de uma loja que fica do lado do local, eu acho, até me olhava mesmo, mas talvez achando esquisito meus passos hesitantes. Passei reto, como se fosse pra outro lugar. Dei uma olhada pra trás. Rua tal, número cento e tal. “Vamo lá, ninguém tá se lixando pra você...”. Entrei no lugar, que na porta tinha uma falsa indicação de que seria um cabeleireiro. Fui andando pelo corredorzinho estreito, com umas curvas. Comecei a subir e a ouvir umas vozes. “Será que tem alguém conhecido lá dentro?”.
Carpete bege, luz vermelha – “luz vermelha...” – e meia-dúzia de meninas dançando um daqueles funks “proibidões”. Era um sujeito que ameaçava, berrando: “Vou passar cerol na mãããããooo!”. Algumas cantavam o resto da letra. Todas de calcinha e sutiã, exibindo os dotes – pelo que me lembro, não muito atraentes, mas o suficiente pra formar clientela. Olhei rápido para os lados; me sentia diferente daqueles caras, com aquelas caras de pobres famintos, doidos pra “dar umazinha’ e esquecer um pouco a sua triste condição.
Tinha mulher pra quase todo mundo; as outras estavam num barzinho atrás, fingindo querer namorar aqueles miseráveis, servindo Skol, enquanto outras estavam nos cubículos sendo consumidas mais uma vez. “Vem tesão, vô ti pegá de jeito”, diziam as dançarinas. “Ai, me fode gostoso, filho da puta, ai, tesão, mete, isso”, uma falava com o freguês em um dos matadouros. Tudo isso registrado em poucos minutos. Logo que eu me vi envergonhado, mas disposto a ficar, escolhi uma mulata magra, que parecia mais discreta e menos barriguda.
Enquanto entrava olhei de relance o cafetão, um careca forte, e um velho saindo satisfeito de outro cubículo.“Você com essa barba parece o Ed Motta”, falou a que eu escolhi. Meu maxilar, a essa altura, já estava rígido demais pra que eu fingisse descontração e conforto. O cubículo tinha um cheiro novo pra mim, mas previsível: fedor cheiroso, afinal, não há bom-ar que abafe a catinga de trocentos sujeitos por dia. Tirei a roupa e ela foi logo intervindo naquela região onde, diz a ciência, está o centro do prazer masculino. “Você já vai pôr a camisinha? Nem endureceu ainda”, retruquei. “Como é que eu vou chupar sem camisinha, querido?”. E assim foi. E enquanto ela rebolava eu ficava atrás, me roçando, cada vez mais apto.
Eu gosto de ver a mulher por cima, cavalgando, o esforço sexual que as deixa bem suadas e ainda mais apetitosas. “Ah, por cima não dá não. To trabalhando aqui desde manhã!”, explicou, e então abriu as pernas.“Posso ver teus peitos?”, pedi. “Pode, mas sem ficar pegando nem beijando”. Quando o coito começou, eu resolvi colar nela. Até que a mulata colaborou. Falou aquelas bobagens no meu ouvido esquerdo e deu umas mordidinhas, lambendo. Ela sabia dar prazer, mesmo cansada. Eu queria prazer, mesmo desconfortável.
Depois daqueles segundos de satisfação, dei os 10 reais e achei aquilo deprimente. Ela começou a cantarolar e perguntou, enquanto eu me vestia: “e aí, gostou, tudo bem? Dá um beijinho”, virou a bochecha direita. Quê que eu ia fazer? Depois, saí o mais rápido que pude e corri praquela avenida cheia de gente que é contra a prostituição e que jamais usaria, em prol de seu Id insaciável, uma pobre coitada sem cultura e sem perspectivas de vida digna. Gente como eu.
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