Soco no estômago
Não é uma metáfora: hoje - ou melhor, ontem - eu vi um homem socando a barriga de uma mulher, lá na Rua Acre, perto de onde trabalho. Foi quando ia embora, cinco e pouca da tarde. Talvez ela estivesse grávida - alguém disse "vai abortar a criança, ô seu babaca". Ele parecia bêbado ou transtornado. Ela também. Ela gritava um grito esganiçado como quem fosse chorar. Eles chegaram meio que a se abraçar; na verdade, mais parecia um clinch, como numa luta de boxe. Foi então quando ele acertou um soco no estômago dela. Depois tentou acertar o rosto, mas a coitada se abaixou. Não sei se o soco doeu mesmo nela. Também não sei se o soco e toda a cena desagradável - daquelas que reunem espectadores - deveria ter doído em mim. Não sei se doeu.
Estou lendo "Cidade Partida", de Zuenir Ventura. É sobre o principal sintoma da tensão social e do fracasso estatal na cidade do Rio: a violência. Mas, o que é violência? E o que é, mais especificamente, a violência de grandes cidades do Terceiro Mundo, como o Rio? O medo, esse sim, talvez seja o principal sintoma citado acima. Porque a violência é filha do medo, é subproduto do medo. Mas não sou psicólogo nem sociológo, em suma, não estou preparado para discorrer sobre o medo. Apenas sinto medo e sei que todos também sentem - apenas intuição. Zuenir "viveu" durante meses em Vigário Geral, o bairro que ficou famoso por causa de uma chacina - na qual ninguém ligado ao tráfico foi morto (nem nosso instinto de vingança poderia ter sido satisfeito, pois os mortos eram inocentes, se é que existem culpados e inocentes).
Sem ser nenhuma novidade, digo que o Centro do Rio é um microcosmo dessa cidade partida. Perto de edifícios imponentes, cabeças de porco e favelas. Perto de restaurantes sofisticados, biroscas fedorentas. Perto dos desembargadores e dos funcionários públicos vagam mendigos, prostitutas, pessoas panfletando "relax só a dez reais", grandes assaltantes de celular e vários outros tipos que deixam a nós, pequenos e grandes privilegiados, com enjôo. Esse enjôo pode ser vontade de vomitar a realidade - se é mesmo possível isso. Mas pode ser aquele enjôo do tédio, de quem prefere tentar entender "coisas" mais fáceis. Fico pensando sobre qual é o entendimento de todos depois de doarem cinco minutos de suas vidas para assistir ao Sr.Ninguém agredindo a Sra.Ninguém. Alguma coisa nos incomoda.
Estou lendo "Cidade Partida", de Zuenir Ventura. É sobre o principal sintoma da tensão social e do fracasso estatal na cidade do Rio: a violência. Mas, o que é violência? E o que é, mais especificamente, a violência de grandes cidades do Terceiro Mundo, como o Rio? O medo, esse sim, talvez seja o principal sintoma citado acima. Porque a violência é filha do medo, é subproduto do medo. Mas não sou psicólogo nem sociológo, em suma, não estou preparado para discorrer sobre o medo. Apenas sinto medo e sei que todos também sentem - apenas intuição. Zuenir "viveu" durante meses em Vigário Geral, o bairro que ficou famoso por causa de uma chacina - na qual ninguém ligado ao tráfico foi morto (nem nosso instinto de vingança poderia ter sido satisfeito, pois os mortos eram inocentes, se é que existem culpados e inocentes).
Sem ser nenhuma novidade, digo que o Centro do Rio é um microcosmo dessa cidade partida. Perto de edifícios imponentes, cabeças de porco e favelas. Perto de restaurantes sofisticados, biroscas fedorentas. Perto dos desembargadores e dos funcionários públicos vagam mendigos, prostitutas, pessoas panfletando "relax só a dez reais", grandes assaltantes de celular e vários outros tipos que deixam a nós, pequenos e grandes privilegiados, com enjôo. Esse enjôo pode ser vontade de vomitar a realidade - se é mesmo possível isso. Mas pode ser aquele enjôo do tédio, de quem prefere tentar entender "coisas" mais fáceis. Fico pensando sobre qual é o entendimento de todos depois de doarem cinco minutos de suas vidas para assistir ao Sr.Ninguém agredindo a Sra.Ninguém. Alguma coisa nos incomoda.
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